A alteridade
- Estephanie Mognatto
- 27 de ago.
- 3 min de leitura
Acredito ser fundamental revelar meu zelo ao que é diferente de mim.
Não estou nessa profissão para normatizar pessoas e sim ajudá-las a serem o melhor que podem ser para agirem de forma a se sentirem bem em suas vidas e relações.
Acho importante trazer reflexões diante do nosso modo de ser e como agimos com o que é diferente de nós. Trago tais questionamentos com o dever de diminuir verdades, preconceitos e atritos. Principalmente nessa sociedade atual em que surgem cada vez mais grupos de identificação e cada vez mais grupos de exclusões.
Tudo o que é diferente de nós, incomoda. Mexe com verdades que já enraizamos. Na maioria das vezes excluimos, criticamos ou menosprezamos, colocamos no conceito do errado. Do fora da margem. Do anormal. Achamos que sabemos mais do que o outro.
O conceito de normalidade é relativo, afinal o que pode ser aceitável em um lugar pode ser anormal em outro. Alguns exemplos: Moradores de rua, Pessoas com deficiências físicas e mentais, Dependências químicas e emocionais, Pessoas que possuem renda financeira diferente de você (isso vale para rico e para pobre), Pessoas com etnias diferentes (negro, índio, árabe), com crenças, manias, estado civil, gêneros diferentes, cultura da beleza, música, linguajar, entre tantos outros.
Isso faz parte de sistemas que nos rodeiam o tempo todo, de palavras que usamos a roupa que compramos. É influência da educação, da mídia, da comunicação, da política, da história de forma geral.

Vai me dizer que alguém nunca brincou ou te ridicularizou por uma mania engraçada ou estranha sua? Ou mesmo que você nunca teve um pensamento que diminuísse o outro por ser diferente de você, por mexer com suas certezas? Infelizmente eu já. E acredito que todos nós ainda faremos muitas vezes.
Precisamos refletir mais em nossas ações e palavras para não reproduzirmos tantas marcas sem percebermos. Utilizar mais da alteridade, que é a qualidade ou estado do que é outro ou do que é diferente. Um dos princípios fundamentais da alteridade é que o homem na sua vertente social tem uma relação de interação e dependência com o outro. Por esse motivo, o "eu" na sua forma individual só pode existir através de um contato com o "outro".
No caso da saúde mental, possuímos uma história de luta que preconiza um objetivo e até mesmo um dever de influenciar pessoas e organizações a refletirem sobre o lugar dos pacientes em saúde mental e o estigma que carregam através das tantas representações sociais que são impostas. Por muito tempo e ainda hoje a redução do individuo ao sintoma o faz ser visto somente pelo sintoma e não pelo ser humano que é. Por isso acredito e há algumas conquistas de pessoas com a diversidade da saúde mental fazendo diferença e se colocando em uma sociedade que prioriza a unificação de padrões. É possível sim construir seres humanos capazes de circular entre as esferas da vida e da sociedade como um ser digno em todos os âmbitos sociais, com dificuldades e desafios, mas com ciência e sentimento de valor que possam ter, conseguem uma vida de autonomia e bem estar de forma livre para ser aquilo que possa ser e até mais. É preciso expandir o individuo para além de suas limitações e o avaliar por inteiro com características humanas e sociais perante a cidadania e direitos que possuem.
São com as lutas de cada um para desmistificar conceitos e padrões, que conquistamos mais direitos, sejam eles trabalhistas, a luta antimanicomial, movimentos de culturas e gêneros, defesa dos animais, do oprimido ao opressor... Todos precisam ser olhados e respeitados por direitos e deveres, atos e consequências.
Por isso, faço clínica em psicoterapia e na política de meus encontros sejam eles nas ruas, em cada relação ou algo específico como o CAPS ad não para colocar as pessoas no que deve ser e sim naquilo que é mais digno para ela. Olhando cada sujeito com suas verdades e flexibilizando formas de ser com respeito para uma psico educação de respeito em mim, no outro e pela humanidade.




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